segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Um frango e um brinde

O vidro do copo aqueceu na lareira. Lembras-te daquele dia? Sim, ajudaste a escolher a comida. Chegaste a casa três vezes bêbado à conta do almoço do nosso casamento, e fizeste um bom, um excelente trabalho. Não vou esquecer esse almoço. Eu vestida de noiva a guiar o carro sujo, pés descalços numa aldeia, quarenta graus, duas peónias e meia-dúzia de frésias do estrangeiro, já fora de época. 
O carro bloqueado junto à garagem de uma das avenidas da moda enquanto experimentava o vestido e tu, tu a 100 km a ensinar aos trolhas como construir uma escada que fizesse o sótão visitável no ia seguinte. Eu sentada no beiral o jardim a chorar. Não chore, menina, vai correr tudo bem, mal os homens das obras saiam daqui, limpamos tudo. Mãe, vou adiar o casamento. Não podes filha, agora é como é. Ninguém vai reparar nas obras, no lixo e no pó. 
Pego na mangueira no raiar das dez da noite. É preciso agarrar toda a força do poço a essa hora para limpar o chão do jardim. O único que se podia lavar. Trinta graus à noite. Um frango. Duas da manhã. Um copo de vinho no chão de uma cozinha lambida de pó. Deixa-me encostar ao armário. Estou tão cansada. Um brinde a nós.
Vai correr tudo bem.

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