O sol deste final de tarde impõe-me o meu próprio reflexo no ecrã do computador. Vejo pelo canto da imagem os poros abertos e as linhas que marcam o contorno da boca e do nariz. A pálpebra já não se estica, habituou-se, preguiçosa, a este modo de estar. O cabelo parece ouro, mas há uma grande distância entre o ser e o parecer. Desgrenhado, apanhado atrás do pescoço que, felizmente não se reflecte. Há quanto tempo não vês os meus cabelos soltos, uma expressão que não evidencie a tensão destes músculos, a minha mão a procurar-te, o sabor de um beijo?
Continuo a olhar para este reflexo. Se virar um bocadinho o ecrã, vejo a janela por onde passa o sol. O vidro está sujo. Há imperfeições que se evidenciam: pequenos riscos, uma ou outra mancha de gordura, alguns pontos que revelam o setembro e as suas moscas.
Estou cansada. Cansada como este vidro, chicoteado pelo sol, que entra sem ser convidado.
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