segunda-feira, 12 de maio de 2014

Pânico

É preciso escrever, escrever, escrever, muito, muito rápido, e tentar acompanhar a sensação - de onde vem a sensação? A cabeça e o coração a disputar protagonismos, como se tivesse alguma importância este momento que se vive aqui em mim a muitos quilómetros por hora. Calem-se todos, deixem-me ouvir o que o corpo diz e não me atrapalham que o tempo não se pode perder e eu tenho de sentir, sentir muito, pensar na sensação, deixá-la sair do coração e resgatá-la no cérebro de onde nunca devia ter saído. Estás a sentir o calor que vem do peito, autêntico sol a pôr-se e para onde é perigoso olhar? E a barriga a contorcer-se? Estás prestes a ter um filho que não é mais do que uma invenção do cérebro, enterra-o lá. E os dentes que se cravam na língua e nas paredes da boca e rangem, rangem até fazer sangue? Usa-os para comer. Diz ao teu trapaceiro amigo cérebro que tens a lição bem estudada e que sabes por que razão as coisas têm uma função. O coração acelera-se e estende o raio de acção. Bate no peito, na virilha, no olho, tum, tum, tum, não sai de dentro dos teus ouvidos. Que venha alguém com uma mão secular e o arranque com força e rapidez. Não tenho espaço para um coração tão grande. O cérebro quase a ganhar-me e eu quase a deixar-me ir, derrotada, peço tréguas e proclamo-o dono e senhor deste corpo no limite, desgastado, corroído, suplicante. Nada que um calmante não resolva, penso. Penso eu ou sugere ele? Ponho em prática o que aprendi em anos de análise, tento relaxar e ver de fora, sentir e ser outra a explicar o que sinto a quem só se interessa por fenómenos químicos, com o pormenor de um legista que explica aos alunos onde começa um órgão e acaba outro. Isto passa. Passa sempre. Tu sabes. Sei? 

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