sábado, 17 de maio de 2014

No primeiro beijo, as bocas engolem-se

No primeiro beijo, por muito romântica que seja a imagem de dois lábios que se tocam, as bocas engolem-se. O primeiro beijo anuncia o que vem de seguida e resume o que se passou antes: dois corpos indistintos e dois corações ansiosos.
Lembro-me do nosso primeiro beijo.
Demorou algum tempo a acontecer, não por falta de atrevimento meu, mas por medo. E se não gostasses? E se a vontade de um beijo fosse só do meu cérebro toldado pela paixão? Tanto medo e nós já adultos, vidas anteriores, filhos, e o medo de um beijo que já havíamos dado com os olhos e com o corpo.
E o beijo chegou, 350 quilómetros depois do início da viagem, a minha mão a colocar a terceira mudança no carro para tocar na tua, na recepção de um hotel numa terra estranha, quente, insuportavelmente quente.
E nessa recepção era como se ninguém existisse. O beijo que surge quando se firma uma assinatura no quarto, um acordo pré-nupcial da minha permanência em ti. Duas bocas que se engoliram, dois corpos colados, fora do tempo e do espaço, dois espanhóis a saborear um bagaço intragável e o beijo que tinha dentro trinta outros beijos que tinham ficado por dar. Nunca mais perdemos tempo.

Sem comentários:

Enviar um comentário