domingo, 8 de dezembro de 2013

Muscas

Reflicto, sem surpresa, sobre as virtudes de deus ao criar a humanidade e questiono-me em que se distraiu quando criou a mosca. No ano do meu regresso ao Alentejo, as moscas multiplicaram-se por números com demasiados zeros. Até agora, Dezembro escarrapachado, é vê-las moribundas à noite e molengamente vivas ao meio do dia. Nunca tirei tantas moscas do vinho como este ano, até que o homem da casa apareceu com umas fitas que se colam a tudo e as prendeu em locais estratégicos da cozinha. Elas voam e dão carinhosas turrinhas contra as fitas e irremediavelmente se colam, primeiro patas, depois zunzuns que ecoam uma hora, e depois desistem, não sem antes tentarem copular como porcas no cio, mesmo sem forças para levantar uma ou outra pata, fingem, talvez, a moleza do frio que as torna impotentes, mas não retira o instinto de sobrevivência. Enrolam-se, encavalitam-se - tanto trabalho, por deus! - e depois... Coladas numa fita, aspiradas das paredes, sobremesa de aranhas. O que podem contar da vida? Vita brevis. Vinho, fodas e desatinos. Afinal, deus lá sabe o que faz.

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