segunda-feira, 2 de março de 2015

Fazer crescer coisas

Há quanto tempo não escreves? Há quanto tempo não te nasce das mãos um vestido, uma alface que rebenta a dureza da terra? Há quanto tempo nada cresce dentro de ti? De ti? Que luto é este? Que luta é esta, que não é tua? Há quanto tempo não sorris com o corpo todo por causa de um raio de sol, de uma onda que te molha o pé, de um menino que salta para o teu colo? Há demasiado tempo. As mãos estão perras, o útero vai secando, o sorriso deixa marcas. Mas tudo se reaprende, tudo há-de sair com a pressa e o destreino de um bebé que se precipita. Mais uma vez. E nesse dia, há-de haver festa na minha aldeia. Com direito a foguetes, a fanfarra, a pés descalços rodopiantes, a beijos roubados e a olhares que prometem, a medo, o que não se sabe se tem. É o sabor a vida.

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