sexta-feira, 11 de julho de 2014
Quando era pequenina, questionava-me sobre se deus ouviria as minhas preces sem som, se deus seria capaz de ouvir o que dizia e pedia em silêncio. Hoje voltei a pensar nisso e dei por mim a achar puerilmente ou felizmente que sim. Deus ouve os meus pensamentos e os meus desejos. Deus e os meus pequenos deuses. Largada nestes pensamentos obtusos, reparo, neste fim de tarde asfixiante, no homem velho e tisnado que fala francês com o neto-filho, no jardim da casa que ele próprio ergueu com as mãos e anos de trabalho em França. É francês. Já falaram sobre a morte, agora falam sobre a presidência da Europa. Ele, o pequeno francês, dá toques na bola, o velho português aproveita a brisa para se enfiar no túnel de terra que tem vindo a escavar e que levará água a casa e às amoras que diariamente nos oferece. É feliz. Sabe que só voltará definitivamente a Portugal para morrer. Que conversas terá ele tido com deus?
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