domingo, 29 de junho de 2014

Banho maria

A primeira pergunta. Como vou escrever isto se a mão direita está enfiada na tua barriga peluda, à mercê de mordidelas de amor que deixam sangue?
Estou tão zangada hoje, tão zangada que nem o teu ron-ron mecânico me acalma. Os últimos dias de espera, num local que quero esquecer, que é meu e me deu tudo, mas que hoje já nada tem para mim. Um adormecimento entre as oito e as dez da manhã que confirma a enfermidade. Dêem-me novidades que eu não fui feita para esperar e para ser paciente. Eu quero sair daqui, começar quase tudo de novo, estrear umas cuecas, voltar a fazer planos, voltar a poder fazer-te surpresas, surpreender-me a mim, mas não me deixem morrer em lume brando porque eu não sou um chispe. Quero voltar a falar como se o infinito estivesse preso numa das mãos e a gargalhada o soltasse e o eternizasse na noite como um eco de que nos lembramos quando estamos perdidos. Quero voltar a desenhar os meus sonhos, tortos e manvos, mas sonhos, e deixar de acordar porque o que aguardo - seja isso o que for - não acontece. Quero recuperar a minha autonomia literal e a minha pseudo literariedade. O resto quero mesmo que se foda.

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