No dia em que o meu filho se vai embora deste país eu queria espremê-lo novamente entre as pernas, cheirar-lhe o cucuruto, limpar-lhe o cocó do rabo e enchê-lo de cremes caros, daqueles que cheiram a pasta de fígado de bacalhau e deixam memórias nos dedos.
No dia em que o meu filho se vai embora deste país eu queria dar-lhe uma lição de história, sem ser envergonhada, falar-lhe dos feitos quotidianos da família que lhe dá nome, deste país que sorri e se encolhe de vergonha a seguir.
No dia em que o meu filho se vai embora eu queria dizer-lhe que se orgulhasse de mim e do pai, que nos amámos às escondidas e o fizemos com vontade e orgulho, tanto quanto como nos separámos e o colocámos num pedestal intocável. O teu pai terá muito orgulho em ti, filho. Eu sei.
No dia em que o meu filho se vai embora deste país eu queria dizer-lhe que fosse honesto, grato, amigo do seu amigo, sonhador, realista, sem limites. O mundo é teu, consoante o que fizeres com a tua vida. Não guardes rancores e amores, as palavras foram feitas para serem ditas e os sentimentos para serem sentidos. Não acredites em fins, nem em buracos negros, são só uma questão de perspectiva. Os nossos deuses seguram-nos e, no fim da linha, há sempre uma luz.
No dia em que o meu filho vai deixar este país quero dizer-lhe que aos 17 o mundo é nosso, mesmo que pareça estupidamente inalcançável como o sonhámos, que um par de cuecas e um livro fazem mais por nós do que as burocracias com hora marcada e os acontecimentos previsíveis.
No dia em que tu, meu filho, vais deixar este país, quero que te lembres que há um território ao qual pertencerás para sempre, que te acolhe na presença e na absência, nas palavras e no silêncio, no riso e no choro, e esse território, o nosso coração, é nosso, e só nós instituiremos os seus desígnios. Por favor, sê feliz.
Tão lindo
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