terça-feira, 15 de abril de 2014

Noites de inverno com gatos

Adormeço no sofá ao pé da lareira com dois gatos. Quando me dói muito o pescoço, subo as escadas para a cama, sem luz, tropeço num gato que me aguarda num degrau e quase me estatelo no chão. Na cama aguarda-me outro gato, cuidadoso, que se enrosca por cima da manta aos pés. Lavo os dentes e dois gatos, sentados à soleira da casa-de-banho, aguardam que me despache. Está frio para andarmos de um lado para o outro. Entro na cama gelada e estico os pés para que cheguem ao local aquecido pelo gato educado, coloco as pontas dos dedos por debaixo da sua pancinha quente. Adormeço. A meio da noite, agarro-me ao meu amor e estranho os pêlos que tem, abro um olho e o meu amor é um gato branco, olha não, afinal é mesmo um gato, o meu marido está do outro lado, dá para lhe reconhecer os ombros. Viro-me, porque há um hálito quente que cheira a peixe; não desgosto. Subitamente, sinto um peso em cima das costas e é outro gato que se consegue equilibrar no meu lombo. Fecho os olhos. Há muita gente a ressonar no meu quarto. Adormeço embalada pelo sono de tantos anjos. De manhã, acordo às 07:44, sem o despertador, saltam três gatos da cama, miam e olham para mim. Abro o olho e vejo que é sábado, que não há necessidade de acordar tão cedo, está frio e não tenho nada para fazer. Puxo o cobertor para cima da cabeça e tento dormir. Um gato sobe para cima da almofada e faz-me um cachecol. É bom. Adormeço. Uma hora depois, já fartos da minha preguiça, passam pela minha cabeça, cheiram, miam, há um que me dá uma ligeira patada, sem garras. Ainda resisto. Olho para todos, sentados no chão à minha espera. Levanto-me, lavo os dentes e a cara com água gelada, todos sentados à soleira da porta, e quando visto o robe, desatam a correr e a escorregar e a tropeçar uns nos outros para descerem a escada. Desço a escada e cada um está à frente da sua taça vazia. Encho as taças de comida e uma grande com água, preparo uma torrada para mim e um copo de sumo. Sento-me à mesa a olhar para o quintal. Os cães já dormem ao sol. Duas garças pousam no terreno da horta e debicam as sementes que tanto trabalho deram a plantar. Está frio. Dirijo-me à sala e a lareira ainda está moribunda. Coloco uma pinha e é como se lhe fizesse respiração boca-a-boca. Renasce. Dois gatos miam junto à janela, querem sair. Abro a janela, saem os dois e fico com um monte de pêlo branco na sala, junto à lareira, a beber café. Para o gato, o dia acaba e começa naquele sofá. Resisto ao apelo da lareira, subo, ligo o computador, reparo que é sábado, e escrevo isto.

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