Hoje uma pequena megera insultou meu trabalho. Como era mulher, ouvi e não respondi. Não queria que me tomasse por um machista retrógrado e a mandasse ser bem fodida. É que todos os que me conhecem sabem que não há nenhuma linha estanque que separe o meu "eu" daquilo que faço, e que, aliás, não tem interesse nenhum para a felicidade da humanidade. Logo, ela estava me insultando a mim. Lembrei do episódio da vagina dentata, do Ruben, e me imaginei enfiando um grande osso buco na boceta da megera. Ela era bem capaz de desfazer um osso em pó apenas com o sexo. Senti repulsa dos meus pensamentos e uma vontade de abandonar a cadeira e ir ver o mar, fazer festas a um cão sarnento e vagabundo, sorrir a uma criança ou amparar um velho. Essas coisas que há cada vez menos pessoas fazendo, porque a humanidade se tornou mesmo inútil, e eu fico assim, sem resposta, quando um ser com uma boceta me humilha. Dá vontade mesmo de pegar em toda a raiva e transformar todo o sentimento em amor bobo: abrir a janela que dá para a favela como se saísse de dias de escuridão, ou ter até o privilégio de baixar à rua para ver se tem carta. Mas ninguém me escreve. Nem contas para pagar às quais pudesse responder e ensaiar uma prosa. Puta que pariu. Eu que só quis coisas boas para minha vida, um bom emprego, uma mulher para gastar cafunés, um par de filhos rodando bola, rodando à minha volta, me chamando papai. E hoje aqui estou: sozinho, fumando beatas para pegar no sono, olhando a lua e fazendo planos.
A mina quase ia estragando o meu dia até que o sono baixou e eu sonhei que estava deitado num vasto campo verde e macio, embalado pela brisa, ouvindo as histórias divertidas que a vovó contava sobre as doenças que se apanhavam nas roças. Eu rindo, vovó rindo de mim, moleque, dizendo 'este menino não tem jeito, não'. E não é que ela estava certa? Saudades de você, vovó, e do seu cheiro a panela, dos seus carinhos, do seu aconchego. Saudades de um tempo que teimo não sejam apenas memórias. Amanhã mesmo mando a mina tomar no cu. Quero ser eu mesmo, procurar um rumo, uma vida comum, meio igual ao do sujeito que toma café no boteco da praça. Um inútil feliz. Mas tremendamente feliz.
Sem comentários:
Enviar um comentário