segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Poema sem sentido, como nós

Há pessoas que perguntam
foi bom? 
Depois há as outras que pedem
fazes-me uma torrada? 
Será pragmática
sintáctica 
ou 
Electricidade estática?

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

O frio é triste

Enquanto a lareira fumega, eu enfio a cabeça lá dentro e fumego também. Fumego na vida e no trabalho e nas obrigações. Como é possível agir quando as mãos e os pés estão gelados? Assim não, primeiro, deixem-me aquecer um pé de cada vez e alternar as mãos com que escrevo, para nenhuma ganhar vantagem. O frio é a maior tristeza da vida. Quando era pequenina, e hoje, que continuo a medir 160 centímetros, o que mais me fazia temer a morte era o frio da morte, o frio de uma campa à noite, à chuva, ao vento. Morrer sim, mas só no verão, e de preferência com companhia. E longe da praia, que mesmo no verão, quando anoitece, gela-nos os ossos até nunca nos esquecermos do poder avassalador do frio. Era para ser uma noite de rebeldia e amor, mas foi apenas uma noite para esquecer, o frio na praia, a procura de posições que fizessem emanar calor de dois corpos, rochas como abrigos - percebi porque dormiam em grutas os homens antigos - uma pequenez, um futuro que não existe sem ser aquele, dois corpos a tremer, dois corações acelerados pelas razões diferentes da que se quer. O frio e a tristeza só são suportáveis porque lhes é inerente o seu oposto, e é bom que contenham em si uma perspectiva disso mesmo. Acho que vou dormir, porque depois da noite há o dia.

Um bicho à solta

A coisa mais difícil é materializar as sensações, se fosse fácil, seríamos mais felizes, buscaríamos um livro, uma espécie de dicionário de sensações quando estivéssemos deprimidos, enamorados, zangados ou simplesmente felizes. Relembro então o dia em que como estranhos deambulávamos entre o corredor - e só de relembrar o meu coração acelera-se - à pressa, de fugida, e os nossos ângulos se esticavam para se tocarem, como se tivessem vontade própria. Dizia-te ao ouvido algo que não tinha nada que ver com o que sentia, alguma banalidade, uma parvoíce infantil, mas a minha respiração acelerada contradizia tudo. Um abraço que era suposto ser de carinho, apenas, o suor que denuncia o calor dos dois corpos, lábios que se esticam e só se tocam. A culpa. Vou fumar um cigarro e já venho.