quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014
Tenho um pesadelo encravado na garganta
É preciso extirpá-lo sem medo de sujar as mãos, quando um pesadelo se encrava na garganta, não desce, não sobe boca fora. Uma cabeça de borrego perdida no chão que é preciso incinerar. Não me peçam coisas difíceis. Eu não sei incinerar um pesadelo quanto mais a inocência de uma cabeça de borrego. Uma boca que escorre golfadas de sangue, antes de um fim conhecido. Uma mão que violenta, massacra, para diminuir o tempo de chegar às cenas do próximo capítulo. Uma culpa lastrosa, milenar de uma coisa que se tem de fazer para sobreviver. O tempo cura quase tudo, mas, à mínima preguiça da consciência, ao pequeno passo em falso, surge tudo, com uma crueza que se multiplica pelo tempo que já passou. É preciso escrever, vomitar este pesadelo, desalojá-lo do corpo, pelo menos. Dar um pouco de espaço para o ar entrar e fazer a sua corrente que finge tudo levar. Quase tudo.
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