Estou com um nervoso miudinho. Amanhã vou ser mãe pela primeira vez. Costumo ser mãe duas vezes por ano, por volta das férias grandes e nas férias de Natal. E custa-me sempre como se fosse a vez inicial: os nervos, os medos e receios de um ser estranho, a vontade de fechar a vida e o mundo naqueles infindáveis abraços e beijos e cheiros de cabeças. Amanhã recebo um filho durante três semanas e, nestes poucos dias, tento fazer com que durem anos: ele chega bebé, aninha-se, pede e deseja como uma criança, depois cresce e farta-se, afasta-se, vai à vida dele. E nesse momento de despedida passaram 19 anos, três semanas, e eu sinto sempre: deixa-o ir à vida dele, recusa-te prostrar-te que não foi à guerra e daqui por seis meses ele renasce e volta ao teu colo.
O medo? E se ele não gostar de mim? Como aterra um ser que já desconheço no meio da vida que sempre correu sem ele - como pode correr? Posso pará-la? Como prolongar o tempo? São três semanas que medeiam o nascimento e a vida adulta. E vai haver choro e cólicas, e gargalhadas e acusações, escárnios adolescentes e discussões de política, e vai haver o final "o que me importa, filho, é que sejas feliz". Como aguentar esta bipolaridade temporal? Como parar o tempo e não pensar que o dia em que o abraço dita o dia em que me despeço?
Amanhã vou dar à luz pela segunda vez no ano e tenho o ninho preparado: a cama mais quente, as comidas preferidas, o mimo irracional, o foco das minhas atenções. Pelo menos, durante as próximas três semanas, vou amá-lo como quem vê uma semente que cresce, um broto que se distingue para um dos lados, um fruto que amadurece e é levado por um pássaro. Meu filho, sê bem-vindo a este mundo.