Reaprendo a dormir, a ouvir a minha própria respiração, a perceber a profundidade de um sorriso, o alcance das palavras que dizes ao meu ouvido. Devia ser proibido tirar uns dias de férias. Será que vou reaprender a fazer tudo a tempo, antes de acabarem?
O lençol de algodão ainda está quente da noite. Que importa? A porta para o terraço abre-se de nesga, para deixar a brisa passar e os corpos quase se arrepiam. Experimento muitas posições de preguiça diferentes e acabo espojada, diagonal à cama, pernas semiabertas ao sabor da corrente de ar, braços que apertam a almofada. Escondo a cabeça na tua. Estou com muita preguiça e só quero ter um sentido acordado, só quero ouvir o vento que passa nas árvores, os passaritos que se resguardam nas árvores, como eu aqui, lá ao fundo oiço-te a escrever, lá ao longe.
Deixem-me ficar aqui neste estado vegetativo, vergonhosa e preguiçosamente felino, a sonhar com tudo aquilo que poderia fazer e não me apetece sem ser mergulhar na minha própria respiração, cabeça imersa no cheiro da tua almofada, a descobrir em mim mais uma existência.
Sozinha, hei-de mergulhar na água quase morna e que cheira a eucaliptos, um ror de pressas a muitos quilómetros, mais uma certeza apreendida neste quase desdém: existo.